(Texto originalmente publicado no Brasil com Z blog).
Sentindo falta de uma melancia, de uma água de côco injetada direto na veia.
Quem emigra, sempre escuta a seguinte pergunta: "Vai voltar ou não para seu país de origem ?". Esteja vivendo há poucos meses ou há alguns anos no novo país, é batata: sempre ouvirá a pergunta !
No meu caso, como vim para a Holanda para ficar ao lado do meu amado (que é holandês desde a pré-história e até debaixo d’água) eu vim para ficar… para sempre. Pagamos hipoteca aqui, nossos filhos tem escola gratuita, vivemos num país bem internacional e economicamente estável e central na Europa: fácil para ir para a Escandinávia, para o Mediterrâneo, para a Europa oriental, até para o Oriente Médio e para o norte da África é "pertinho".
Voltar ou não voltar para o país de origem é uma decisão muito pessoal, decisão essa influenciada por motivos nem sempre racionais (claro, o ser humano não é um bicho lógico). Já conheci vários estrangeiros europeus que após alguns anos decidiram enfiar a viola no saco e voltar para o país de origem. Apesar da Holanda ser um país rico e que oferece muitas oportunidades, eles sentiram que seriam eternamente estrangeiros com sotaque, e por isso preteridos no mercado de trabalho. Voltaram para a Itália, Irlanda, Croácia, Alemanha e Espanha e foram estudar ou ter um trabalho semelhante ao que tinham na Holanda – mas sem o estresse de terem de se justificar porque estavam na Holanda, porque não falavam (ainda) holandês fluente – isso quando falavam. E sobretudo agora no país de origem estão próximos a seus entes queridos.
Conheci algumas escandinavas que apesar de casadas com holandeses bem empregados quando tiveram filhos deram um ataque de pelancas e arrastaram marido e prole para a Finlândia e para a Suécia. Atenção: países com menos oportunidades de emprego/carreira e bem mais frios que a Holanda. Elas não aguentaram ser estrangeiras (apesar de louras e de olhos azuis e sem dificuldades para aprender o holandês) e viver fora do aconcheguinho do lar frio lar de origem. Elas dizem que estão melhor mentalmente, vivendo em países menos populosos, com mais natureza, menos competitivos e com menos engarrafamentos.
Sim, eu poderia voltar perfeitamente a viver no Brasil. Mas aposentada, com os filhos encaminhados nos estudos. E só viveria alguns meses por ano, quando fosse inverno e início de primavera na Holanda. Me pareceria muito interessante passar de novembro a abril no Brasil, fazendo várias rotas pelo sul do país, pelas cidades históricas de Minas, esticando para o Chile, Uruguai e Argentina. Descobrindo pousadas escondidinhas no Rio e em São Paulo.
Por enquanto eu ainda me tensiono ao descer no Galeão, ao dirigir por estrada esburacadas, muitas vezes sem acostamento e de mão dupla. Eu acho a mobilidade pública no Brasil muito cara e limitada – os preços das passagens aéreas são irreais, viajar de trem de norte a sul, leste a oeste… inexistente.
Meu mundo por um queijinho minas.
Eu não creio que se voltasse a viver no Brasil por alguns meses por ano, eu teria uma “crise de identidade”. Eu iria curtir muito um solzinho da manhã ou fim da tarde, rodízios, comidas a quilo, água de coco, o frango assado pingando óleo e o pastel da padaria, a melancia e a manga que só existem em terra brasilis, as roupas e calçados leves, a comunicação fácil entre as pessoas. Eu teria sim uma baita crise se tivesse que viver novamente o dia-a-dia eterno numa sociedade tão machista, com tanta divisão social, tanta valorização das aparências e tanto descaso com tudo que é público.
Mas creio que em 15 ou 20 anos a situaçao do Brasil estará melhor, tanto em termos humanos quanto tecnológicos. Há muito chão a percorrer. Por enquanto eu vou labutando e sendo feliz por aqui.
Será que alguém aí pode me oferecer um pastel, uma bolinha de queijo, um croquete de camarão ou um bolinho de bacalhau ? Tô no seco.
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